quinta-feira, dezembro 21, 2006

Feliz Natal, Ótimo 2007. Sejamos felizes

Queridos amigos e amigas,

Nosso humilde blog já estava em operação tartaruga há uns 15 dias, mas agora é oficial: dentro de exatos 27 minutos, entro de férias. Momento para agradecer pela carinhosa leitura – melhor dizer, co-autoria – de cada um de vocês. No descanso que se segue, que possamos refletir, recarregar as baterias e sonhar com o nosso mundo melhor.

Na volta, é arregaçar as mangas!

Foi um prazer. Se Deus quiser, volto com todo o gás a partir de 8 de janeiro.
Feliz natal, ótimo 2007. Sejamos felizes.

Rodrigo.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Esculacho digital nos deputados

Tire um tempinho – uma hora, talvez – para infernizar a caixa postal dos deputados que se deram um auto-alto-aumento de salário de 91%. Os e-mails dos cornos e cornas está no fim deste post.

Se puder, não copie todos em lista. Mande mensagens personalizadas. Eu, por exemplo, escrevi textinhos singelos para todos os deputados de (muitas aspas agora) """""esquerda""""", os mais hipócritas da história. No final do post, minha mensagem ao Aldo Rebelo

Não funciona? Acho que funciona, sim. Ou melhor: tem alguma função. Algum impacto a militância virtual tem. Para boa parte dos parlamentares, funciona assim: mensagens que não são spam são lidas, por algum assessor que seja. Alguém sempre acaba ouvindo, essa é a minha hipótese.

De qualquer forma, mandar e-mail é melhor do que não fazer nada. E pior do que pegar os caras na saída.

Aliás, se você estiver em Brasília e tiver a oportunidade, dê um pedala bem dado em qualquer um deles por mim.

A lista:

Aldo Rebelo (PC do B-SP) - dep.aldorebelo@camara.gov.br - Presidente da Câmara, autor da proposta
Ciro Nogueira (PP-PI) - dep.cironogueira@camara.gov.br - Corregedor da Mesa
Jorge Alberto (PMDB-SE) - dep.jorgealberto@camara.gov.br - suplente da Mesa
Luciano Castro (PL-RR) - dep.lucianocastro@camara.gov.br - líder
José Múcio (PTB-PE) - dep.josemuciomonteiro@camara.gov.br - líder
Wilson Santiago (PMDB-PB) - dep.wilsonsantiago@camara.gov.br - líder
Miro Teixeira (PDT-RJ) - dep.miroteixeira@camara.gov.br - líder
Sandra Rosado (PSB-RN) - dep.sandrarosado@camara.gov.br
Colbert Martins (PPS-BA) - dep.colbertmartins@camara.gov.br
Bismarck Maia (PSDB-CE) - dep.bismarckmaia@camara.gov.br
Rodrigo Maia (PFL-RJ) - dep.rodrigomaia@camara.gov.br - líder
José Carlos Aleluia (PFL-BA) - dep.josecarlosaleluia@camara.gov.br - líder
Sandro Mabel (PL-GO) - dep.sandromabel@camara.gov.br
Benedito de Lira (PP-AL) - dep.beneditodelira@camara.gov.br
Givaldo Carimbão (PSB-AL) - dep.givaldocarimbao@camara.gov.br
Arlindo Chinaglia (PT-SP) - dep.arlindochinaglia@camara.gov.br - líder
Inácio Arruda (PC do B-CE) - dep.inacioarruda@camara.gov.br - líder
Carlos Willian (PTC-MG) - dep.carloswillian@camara.gov.br
Mário Heringer (PDT-MG) - dep.marioheringer@camara.gov.br - suplente da Mesa
Inocêncio Oliveira (PL-PE) - dep.inocenciooliveira@camara.gov.br - primeiro-secretário da Mesa
Renan Calheiros (PMDB-AL) - renan.calheiros@senador.gov.br - presidente do Senado, autor da proposta
Demóstenes Torres (PFL-GO) - demostenes.torres@senador.gov.br
Efraim Moraes (PFL-PB) - efraim.morais@senador.gov.br - primeiro-secretário da Mesa
Tião Viana (PT-AC) - tiao.viana@senador.gov.br - vice-presidente do Senado
Ney Suassuna (PMDB-PB) - neysuassun@senador.gov.br - líder
Ideli Salvatti (PT-SC) - ideli.salvatti@senadora.gov.br - líder

O e-mail para o Aldo:

Prezado deputado Aldo,
É difícil exprimir a decepção que você me causou ao liderar esse absurdo movimento pelos aumentos de salário dos parlamentares. Coisa de uma insensibilidade e de uma desfaçatez que envergonharia indivíduos de qualquer matiz ideológico. Vindo de um comunista, então, é algo inadmissível. Comunistas, socialistas, pessoas com um pingo de vergonha na cara tem de defender a igualdade, a solidariedade, os menos favorecidos. Nesta legislatura, vocês acabaram com a esquerda brasileira – você, em especial, tem grande parcela de culpa nisso. Vá fundo, refestele-se com seu auto-alto-aumento de salário. Que os quase 100 mil reais mensais sirvam ao menos para aplacar seu peso na consciência, se é que você tem alguma.

Sem mais,
Rodrigo Ratier

quinta-feira, dezembro 07, 2006

A mídia individual: perigo à democracia?

Artigo do site Worldchanging.com (em inglês) discute a tese de Cass Sustein, no livro Infotopia. Segundo Sustein, a tendência atual de cada internauta customizar as informações que deseja receber – a explosão do RSS é o melhor exemplo da chamada "mídia individual" – é um perigo à democracia. Diz Sustein:

"Se pudermos escolher nossa própria mídia, é possível que usemos esse poder para nos isolarmos em um casulo de informações que sistematicamente evitem vozes dissedentes. Isso gera dificuldades à participação democrática porque precisamos nos expor a pontos de vista que não havíamos considerado e precisamos de debate para tomada de decisões."

Apesar de um pouco alarmista (acho que a ampliação de possibilidades de informação com a web é muito superior a esse risco de isolamento), a tese de Sustein nos lembra da importância da opinião contrária. Há verdade e razão mesmo nas opiniões que nos parecem mais absurdas. Acho que a postura humilde diante da complexidade da realidade concreta é uma atitude essencial ao pensamento crítico.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Coisas que mostram que o ano valeu a pena

Recebi por e-mail da amiga Adriana Freitas Oliveira:

“Oi, Rodrigo. Tudo bem contigo?
Estou te escrevendo para contar que neste semestre na faculdade nós tivemos a disciplina “núcleo de aplicação e aprofundamento língua portuguesa e mídia”, na qual além de discutirmos e estudarmos teóricos que estudam mídia e educação, fizemos um roteiro e filmamos. O nosso curta tem aproximadamente 30 min e recebemos a nota máxima.
Modéstia à parte, ficou muito bom para um trabalho inicial. Gostaria que você visse a nossa produção, se quiser me envie o endereço e eu te mando pelo correio. Também não poderia deixar de agradecer pelo Mini-curso que você e o Aldo deram na USP, me ajudou muito como pessoa e no decorrer deste semestre na faculdade.
Beijo,
Adriana.”


Eu que agradeço por você me fazer sentir útil, Adriana.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Programa Vozes na TV

Do amigão Tonho Biondi e do Intervozes. Garantia de coisa boa:

Nesta semana terá início, ainda em caráter experimental, um programa do Intervozes na AllTV, uma das primeiras web-TVs do Brasil, chamado Vozes na TV, voltado para dar vez e voz para quem não tem espaço na grande mídia.

Para quem assistiu o Direitos de Resposta (www.direitosderesposta.com.br) na Rede TV ano passado, vale a pena conferir agora o Vozes.

Uma coisa bem legal: você pode interagir ao vivo com os participantes e apresentadores do programa, enviando mensagens pelo próprio site.

O programa será às quintas, das 16h às 17h (hora de Brasília), no site da AllTV (www.alltv.com.br). Seguem abaixo mais informações.

Abraços,

Antonho Biondi
Intervozes - www.intervozes.org.br

=========

Vozes na TV estréia dia 30 falando de Direito à Comunicação

No próximo dia 30 de novembro, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e ativistas dos Direitos Humanos no Brasil ganham na internet um espaço democrático para exercerem seu Direito à Comunicação.

Entra no ar o programa Vozes na TV, uma produção do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social para a AllTV (www.alltv.com.br).

O programa será um espaço de debates sobre o Direito à Comunicação, a Democratização da mídia no Brasil e sua importância para a construção de uma sociedade mais igualitária. Será também um ambiente para que movimentos e ativistas levantem suas vozes e ocupem a rede para falar da sua luta e debater sobre como a concentração da mídia e as políticas precárias de comunicação no Brasil interferem na efetivação e garantia destes direitos no país.

O Vozes na TV é semanal e tem uma hora de duração. Será exibido sempre ao vivo, às quintas-feiras, das 16h às 17h. O programa de estréia tratará do tema Direito à Comunicação.

Se você, sua organização, movimento ou coletivo tem uma sugestão de pauta, quadro ou convidados/as para o programa, escreva para: vozesnatv@intervozes.org.br
Para assistir e participar ao vivo: www.alltv.com.br
Estréia: 30/11/06

quinta-feira, novembro 30, 2006

Catadores: minha opinião

Publiquei os tópicos sobre a polêmica dos catadores porque, como ex-Ecano (e obviamente saudoso freqüentador da Festeca), esse assunto mexeu comigo. Mas acho que ele não está tão longe de comunicação e educação como se possa a princípio supor. Que mensagem estamos mandando com a proibição aos catadores (comunicação)? Que categorias mentais usamos para tomar tais decisões (socialização)? Que valores nortearam essa tomada de decisões (educação)?

Alguns pensamentos soltos sobre o tema:

1- USP = espaço público. Brasil = país pobre. Festa em espaço público tem de convivar com essa realidade. Eu acho simples assim. Quem quiser interditar entrada que a faça em espaço privado. Mas quem quer mudar o mundo não pode fugir desse diálogo necessário...

2- A lógica por trás da proibição – "fazer a balada dar certo" (sic.) – me parece que é a mesma lógica que separa a galera do abadá ("gente bonita", eufemismo para ricos) da pipoca ("gente feia", eufemismo para pobres) nos trios elétricos.

3- O direito de ir e vir não é apenas espacial, mas também temporal. Ou seja, os catadores têm direito de decidir quando começar a catar latas.

4- A comparação catadores-gente "perigosa" é descabida. Uma simples revista prévia (ou mesmo uma conversa, ou o bom senso) poderia garantir que os catadores não estivessem armados ou representassem qualquer tipo de ameaça.

5- Segurança na USP (e na sociedade em geral): não se pode partir de pré-julgamentos. Inocência presumida, isso é básico. Qualquer repressão deve ser posterior ao ilícito. E a interdição, a meu ver, não é ação preventiva, mas violação de direitos num espaço público.

6- Prevenção, para mim, é diálogo. Longe de ser panacéa, diálogo é trabalho longo, difícil e cheio de altos e baixos. Mas uma saída duradoura para esse conflito precisa ter como ponto de partida e de chegada o reconhecimento do outro e de suas necessidades. E isso, até onde eu sei, só ouvindo e falando. Mas ouvindo do que falando, eu acho.

Polêmica dos catadores: resposta da ECAtlética

Recebido também por e-mail. Omito novamente os nomes para não expor os envolvidos:

"A Q também viu os seguranças não deixando catar latinhas e veio falar comigo, conversamos e chegamos a um consenso em plena balada.

Sim, nos eventos da atlética, geralmente nao tem gente catando latinha no começo da balada. As pessoas não são IMPEDIDAS de entrar, sao impedidas de catar latinha! O espaço é público e todo mundo pode ir onde quiser. As pessoas podiam entrar a hora que quisessem. Eu e a segurança (16 seguranças) achamos mais fácil garantir a segurança para as pessoas quando não se tem um saco enorme pelo meio da balada enquanto ela está muito cheia. E outra, sempre vem algumas pessoas pedir para pegar latinhas, dizemos que elas podem pegar a partir de xis horas, lá pelas 3 ou 4, porque assim fica mais fácil para os seguranças porque a balada não está tão cheia e melhor pros próprios catadores, que não precisam ficar a noite toda na balada e pegam todas as latas do mesmo jeito.

Essas mulheres, crianças, homens podiam entrar, curtir a balada até umas 3h ou 4h, tirar sua sacola do bolso e começar a catar as latas. Não estou dizendo que roubariam alguém, mas ninguém! ninguém (nenhum aluno da eca, usp, morador de São Paulo, Brasil ou Japão!) entra com uma sacola grande antes das 3h da manhã! assim como ninguém entra com garrafa de vidro, faca, ou outra arma!

Sim, fui eu que disse que não podia entrar. Eu estava cuidando da segurança e tentando garantir que todas as pessoas da balada não fossem roubadas ou se machucassem no meio da noite, assim como tinha alguem garantindo que a sua breja estivesse gelada, que a sua música não parasse de tocar, que a luz não apagasse e que não faltasse troco para voce já de manhã.

Pense na segurança de todos porque nem eu e nem você iríamos entrar com uma sacola grande aquele horário! Se eu não pudesse garantir segurança para os ecanos não assinaria um termo de responsabilidade enviado para o diretor da ECA, para a Prefeitura do Campus e para a Guarda Universitária."

quarta-feira, novembro 29, 2006

Catadores de lata barrados na Festeca

Recebi por e-mail. Omito o nome das pessoas envolvidas para evitar constrangimentos:

Catadores são reprimidos por estudantes da USP
Atlética da ECA limita circulação de catadores no espaço da Universidade

Quase 23h, dia de festeca. Não poderia ficar porque no sábado eu acordaria cedo. Só dei uma passada após a aula. Não rolava a festa ainda, mas alguns tomavam cerveja. Eis que vejo o famoso X, "segurança" de muito tempo de nossa vivência, se dirigindo aos sempre presentes catadores de latas. "Vocês não podem ficar aqui não, tem que sair". E os "conduziu" para fora do espaço delimitado pela Atlética para a Festeca.

Quem recebeu o comunicado de impedimento foi um grupo composto por mulheres, senhoras e crianças, com a desolação e o cansaço do dia no rosto. Haviam também alguns homens, mas não os vi tomando a "chamada" – só os vi fora do cercadinho. Fui então perguntar ao Augustão o porquê da restrição aos catadores. "Só cumpro ordens", foi o que ouvi.

Bem próxima de nós estava uma menina da Atlética – até sei o nome, não cito pra não falar que sou agressivo. Ela disse: "Ah Z...não começa com esse papo... Olha a hora que é e 'eles' já querem lata". Perguntei o porquê da decisão. "Foi decisão da Atlética, a Y que decidiu". Pô, isso lá é argumento??? Insisti.

Logo apareceu um rapaz, cujo nome desconheço. Explicou pra mim "Meu, essa já é a não sei qual edição da Festeca e todos sabemos que é desagradável 'eles' ficarem passando no meio de todo mundo arrastando os sacos de lata, por isso vão ficar de fora". Como se não fosse suficiente, ele acrescentou "eles poderão trabalhar do mesmo modo, só que depois da festa, a quantidade de latas que vão pegar é a mesma. Umas seis da manhã abrimos para 'eles'".

Fui então falar com as mulheres, que já se postavam logo perto da entrada da Festa com ansiedade para entrar e, ao mesmo tempo, uma inércia de desânimo. "Esperaremos até abrir, se abrir à uma hora ou às seis...ficaremos até abrir".

O que temos aqui é uma situação de restrição de Direitos Humanos, da liberdade de ir e vir mais precisamente. O espaço não é meu, não é da menina que falou comigo, nem do X, nem da Atlética, nem do CA. É público. Se eu vestisse os catadores com terno eles passariam pela vista nada grossa da Atlética. Quem é que legisla por aqui??? Qual é nossa lei? Incomoda catadores ao lado do consumo de cerveja?

Como estudante da Escola sinto a necessidade de exprimir meu repúdio à esta atitude. Sinto tristeza de isso ocorrer na Universidade que eu estudo. Não é possível engolir um fato desse, sem tomar alguma atitude. Qual é o espírito crítico e de autonomia de ação que desenvolvemos em nossos cursos? O de assistir a violações de direitos e restrição à democracia? Que façamos algo, pelo menos discutamos isso."

terça-feira, novembro 28, 2006

Questões do mestrado (e da vida)

1- Quem determina nossas ações: nós mesmos (subjetivistas), as regras da sociedade (objetivistas) ou uma interação das duas coisas (praxiologistas)?

2- Tomamos nossas decisões baseados na nossa experiência passada (Bourdieu), na situação presente (Lahire) ou em um projeto futuro (Sartre)?

3- Temos uma identidade e um jeito de ser uno (Bourdieu) ou variável conforme nossos papéis sociais (Lahire)?

quinta-feira, novembro 23, 2006

Pequena Miss Sunshine

Se você não assistiu, melhor não ler, talvez. Tem uns spoilerzinhos...

Filme muito bacana. Uma família de disfuncionais, cada um disfuncional a seu modo. No começo, todos tentam se enquadrar, com teimosia e persistência – um viaja de lambreta para tentar seu programa de auto-ajuda, outro faz voto de silêncio até entrar na Força Aérea, um terceiro, por causa do amor não correspondido, tenta o suicídio (nada resta na impossibilidade de se enquadrar).

A exceção é o vovô, a meu ver a figura central do filme. Sua personalidade ecoa também no jeito de ser da mãe, mas o velho, para mim, é o cara. Expulso do asilo por usar heroína, agora só quer saber de cheirar e comer mulher. Seu estilo, por hedonista que seja, passa a moral central para transformação familiar: fodam-se os outros, tente ser você, seja você.

No final, a teimosia e a persistência continuam, mas agora na afirmação de identidades individuais livres de regras de oconduta, coerções e julgamentos. No final redentor, os superfreaks mandam a sociedade se fuder, literalmente. Uma materialização do que todos nós (ou será que só eu?) gostaríamos de fazer.

O problema é que a vida continua depois dos créditos...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Ser humano = ser do mal?

Reflexão a partir do texto Somos muito safados?, artigo de duas partes do publicitário José Roberto Whitaker Penteado, publicado no jornal Propaganda e Marketing (1ª parte, fraquinha, aqui. 2ª parte, melhor, aqui).

Discutindo a lista da Transparência Internacional sobre a percepção de corrupção em 163 países, Penteado lembra que o Brasil estava "lá no meio, no 70º lugar; portanto há quase uma centena de nações com maior índice de safadeza [ou de percepção da safadeza] do que o nosso [incluindo os argentinos em 93º lugar. Viva]."

Ok, trivial. O que me levou a refletir foi o seu testemunhal e seu juízo de valor sobre a natureza do ser humano:

"Vivi algum tempo na Suiça, país considerado muito certinho, honesto, cumpridor, etc etc e fiz uma constatação estranha. De um modo geral (jamais se deve generalizar), as pessoas respeitavam as leis quase cegamente, mas – desde que não estivessem fazendo alguma coisa ilegal – não tinham qualquer escrúpulo em prejudicar, maltratar ou espoliar os semelhantes. Estudante – e pobre – passei por diversas inconveniências por causa disso, até me adaptar à malandragem local. Para não ser injusto com os suiços – entre os quais conto com bons amigos – ouvi observações semelhantes sobre a maioria dos países europeus e seus povos."

O ser humano é bom ou mal por natureza? Aliás, ele tem natureza – ou é tudo adquirido pela socialização (integração do indivíduo ao grupo)? Hobbes (acho que foi ele, ou algum outro clássico) disse que o estado de natureza do ser humano é a guerra civil. E que o Estado foi criado para evitar que os indivíduos se matem. Viver junto, então, é basicamente uma questão de segurar a onda e controlar impulsos primitivos.

Dá para ser feliz assim? Quem sabe com muita terapia para racionalizar o que é inconsciente? Anarquistas, como poderemos viver sem governo? Otimistas, como acreditar que o ser humano é bom? Subjetivistas, como prescindir do recalque da consciência coletiva?

Quero viver em sociedade, mas sem recalque, sem a necessidade de leis, ociosas porque o ser humano é bom – se não for por natureza, que seja por ele ele é socializado para o bem, o que dá no mesmo. Quem souber como conseguir isso, por favor, me conte.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Lições do professor do ano

Nos Estados Unidos, um professor de mídia, quem diria, ganhou o prêmio de Melhor Professor do Ensino Médio Nacional em 2006. Alan Weintraut é o cara, professor da Annandale High School na cidade de Annandale, no estado da Virgínia. Entre suas atribuições está a coordenação das edicões impresa e online do jornal estudantil A-Blast. Seu discurso de agradecimento está no site do Poynter Institute (em inglês). Destaco alguns trechos interessantes:

1- Adolescentes e a mídia impressa De acordo com uma recente pesquisa do Instituto Pew, hoje apenas 40% dos adultos americanos diz ter lido um jornal no dia anterior (em 1965, esse índice era de 71%). E um recente estudo do Instituto Carnegie mostrou que os adolescentes praticamente não lêem nenhum jornal.

2- A crise do jornalismo de TV Jornalistas “de verdade” (Cronkite, Murrow e Koppel) deram lugar a caras bonitas de aceitação previamente testada em pesquisas do tipo “focus group” (Cooper, Couric). O jovem, especialmente o aspirante a jornalista, se sente perdido com essa falta de modelos a seguir.

3- Adolescentes e a nova mídia Eles – assim como nós – querem notícias sob encomenda. Eles lêem blog, posts do listserv e notícias como nós fazemos. “Eu vejo o declínio na leitura de jornal, mas é altamente duvidoso dizer que os jovens não se importam com as notícias”. "Quando o “caçador de crocodilos” Steve Irwin morreu", diz Alan, "eu fiquei sabendo primeiro por uma mensagem de um aluno."

4- O professor como mediador da relação aluno-mídia
– Estudantes querem estar conectados a notícias que impactem suas vidas, mas às vezes eles precisam de nossa ajuda para serem desviados do Sudoku e de distrações similares.
– Nos ajudamos os estudantes a construir significados em seus mundos saturados de mídia
– Eles registram suas vidas com músicas, filmes e fotos de cada conquista. Algumas vezes, eles colocam tudo isso imediatamente na Web, para terem um feedback imediato, para re-reconstruir significado (Eu: que exemplo bacana da recepção como processo e não como momento, né!)
Beijos, bom fim de semana, bom feriado!

terça-feira, novembro 14, 2006

Segredos de uma boa história

Por John Brady, consultor da Brady & Paul Communications e colunista da revista Folio:, especializada em mercado editorial. Síntese de Bia Mendes, da Secretaria Editorial da Editora Abril:

"O principal elemento de uma boa história é uma boa idéia. A composição final:
50% – idéia
20% – reportagem
20% – visual
10% – texto
10% – edição"


Ele arremata dizendo que, às vezes, 100% não é suficiente (faça a soma e obtenha 110%). Você concorda?

sexta-feira, novembro 10, 2006

Viva as cotas

Do Blog do Emir de hoje, "Guia para ser ex-esquerdista", irônico artigo bastante descontrolado como um todo (defender Stálin não dá), mas com ao menos uma opinião com a qual concordo. Sobre cotas:
"Órgãos da mídia privada estão apinhados de ex-comunistas, ex-trotskistas, ex-esquerdistas em geral, “arrependidos” ou simplesmente “convertidos”". Para ser ex-esquerdista, é preciso "Pronunciar-se contra as cotas nas universidades, dizendo que introduzem o racismo numa sociedade organizada em torno da “democracia racial” – uma citação de Gilberto Freire e o silêncio sobre Florestan Fernandes são bem-vindos –, que o mais importante é a igualdade diante da lei e a melhoria gradual do ensino básico e médio para que todos tenham finalmente – vai saber quando, mas é preciso ter paciência – acesso às universidades públicas. Dizer, sempre, que o principal problema do Brasil e do mundo é a educação. Que empregos há, possibilidades existem, mas falta qualificação da mão-de-obra. Que o principal não são os direitos, mas as oportunidades – falar da sociedade norte-americana como a mais “aberta”."

quinta-feira, novembro 09, 2006

Duas coisas que eu adoro... e uma que eu odeio


No Zorra Total:
Adoro...
– Severino (Paulo "cara-crachá" Silvino) (na foto, como a inesquecível boneca da Escolinha do Barulho. "Dá uma pegadinha!", um clássico)
– Dona Gislaine ("Isso não te pertence mais!")

Odeio...
– Patrick ("Olha a faca!")

terça-feira, novembro 07, 2006

Homerismos: lingüiça


Em "A Star is Torn", Lisa participa do concurso de cantores Li'l Starmaker, paródia de American Idol. Cansada dos métodos truculentos de seu empresário, compositor – e pai – Homer, Lisa resolve dispensar o gorducho, que se revolta:
– Você gosta de lingüiça, mas não quer saber como elas são feitas!
– Não gosto de lingüiça!
– Então gostaria de saber como elas são feitas?

segunda-feira, novembro 06, 2006

Brechas, frinchas e atalhos

Do livro Comunicação e Educação – A Linguagem em Movimento, de Adilson Citelli:

1- O discurso da mídia (ou de um meio de comunicação específico) não é uno, nem coerente o tempo todo. Existem as brechas:
"Eis um dos movimentos complexos que marcam os sistemas de comunicação: eles também possuem fraturas no interior das quais os discursos podem sobrepor-se, reconfigurando sentidos. Infelizmente, no mundo pequeno, nem todos podem ler, ver ou escrever nos desvãos da centralidade." (p. 235)

2- A produção de sentidos se dá no social, "o terreno vivo onde pulsam os sujeitos sociais em suas circunstâncias históricas":
"Talvez, pelas artimanhas reservadas pelos mecanismos de produção dos sentidos e suas conseqüências no terreno das ações humanas, as frinchas, os atalhos e os intervalos possam ser colocados como princípios de esperança diante dfo que se insinua como o poder absoluto dos meios de comunicação." (p. 237)

terça-feira, outubro 31, 2006

Huahuahua


Roger, o alienígena de American Dad, roubou o blackberry do Dick Chenney e começou a passar trotes para representantes de vários países na Assembléia da ONU:
– Alô, Argentina? A sua geladeira está funcionando bem? Não ?! Talvez vocês não devessem ter privatizado a água e a eletricidade!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Recomeço de namoro

Essa reeleição do Lula não está com um jeitão de recomeço de namoro?
É, um daqueles recomeços depois de quase quatro anos juntos... Dá uma certa nostalgia do tempo em que você a admirava de longe, enxergava nela a perfeição, a saída para todos os males. E que luta para vocês se juntarem, né? Mas a vida real, claro, apresentou-se ligeira para acabar com o seu romantismo pueril. A moça não era lá aquelas coisas: falava uma coisa e fazia outra, parecia deslumbrada com o casório (você, provedor afável, lhe deu certo conforto que ela nunca teve). Você foi complacente, fingia não ver as escapadelas, não ligava pra fofoca – aprendera a não confiar nos vizinhos que nunca quiseram a união de vocês! Mas quando a traição ficou evidente, escancarada, ah, aí você, por mais apaixonado que fosse (e você ainda era), capitulou. Desistiu. Desenganou. Com meu sonho não se brinca, minhas juras de amor, pô, que que é isso! Esquecer o que o padre falou... E saiu à procura de outras mulheres.
Mas o mercado estava difícil. As mesmas putas velhas de sempre e uma ou outra ninfetinha até bem intencionada, impetuosa, mas que não era para agora. Você queria relação duradoura e teria de pegar para criar. Apenas uma certeza: a vaca da sua ex, que torrou o seu cartão de crédito por oito anos, ah, essa nunca mais!
Aí, ela voltou. Arrependida, pediu perdão. Disse que era só sua. Que tinha largado as drogas e as más companhias. "E olha, o nosso relacionamento não foi tão mau assim." Até que ela tinha razão... Era ela ou a ex, sejamos sensatos. Você que, não sabe viver sozinho, capitulou. Deu mais uma chance. Sem o brilho nos olhos de outrora, mas deu. Menos romântico, mais calejado, fortalecido e mais confiante de, quem sabe, um dia andar sozinho – ou de encontrar outra que seja aquilo que ela não é. Mas, como diz aquela propaganda do Visa, a vida é agora. E você vai dormir na esperança não de um amor incondicional, mas de ao menos que a quantidade de chifres seja menor desta vez.

sexta-feira, outubro 27, 2006

O que faz da escola, escola (parte 2)

Veja a primeira parte dessa reflexão aqui.

A escola, como dissemos, é local de sistematização de conhecimento, e isso a torna singular entre as instituições produtoras de sentido. Considerando isso como verdadeiro, para analisar a pertinência e a relevância da escola nos dias de hoje precisamos nos perguntar:

1- O que significa sistematizar conhecimento?
Sistematizar é construir categorias de pensamento, montar lógicas de pensamento a partir da seleção/significação da informação recebida. "A escola é a única instituição que faz isso", nos disse em aula o professor Adilson Citelli. No texto Formar o Formador de Leitores, Moacir Gadotti afirma que a mídia informa, mas não produz conhecimento:"As mídias ocupam hoje um papel central na formação. Sedução da mídia (imagens, sons, informações, dados...) e, ao mesmo tempo frustração por ser uma informação seccionada, fragmentada, descontextualizada (não é conhecimento). (...) Tarefa da escola: selecionar criticamente a informação. Formar para ler a informação e, sobretudo, produzir informação e conhecimento. Trabalho de reconstrução a partir do que lhe é ofertado pela mídia. Construir sua própria narrativa." Citelli reafirmou em aula, por outras palavras, a mesma posição. "Não saiamos [a escola] do terreno da sistematização para o da informação. Nesse terreno, não conseguiremos competir com os media".

2- A sistematização deixou de ser importante na sociedade atual?
Não, embora aparentemente possa parecer que sim. No quadro Os três pólos do espírito (1993), Pierre Levy afirma que a passagem do pólo da escrita (típico da sociedade industrial ou moderna) para o pólo informático-mediático (típico do pós-industrialismo ou da pós-modernidade) foi marcada por profundas transformações tecnológicas que, por sua vez, acarretaram mudanças de valores, formas de conhecimento e de aprendizado. Do raciocínio de Levy, destacamos:
A- Os critérios dominantes deixaram de ser "a busca da verdade pela crítica, objetividade e universalidade", sendo substituídos pela "eficácia, pertinência local, mudanças e novidade".
B- As formas canônicas do saber migraram da "teoria (explicação, fundação, exposição sistemática) e interpretação" para a "modelização operacional ou de previsão e simulação."
Nesse contexto, um ensino focado na sistematização pode parecer uma ociosidade – a explosão de escolas, faculdades e universidades de formação pragmática, exclusivamente voltadas para o "mercado de trabalho", não seria um sintoma disso? Por esse prisma, a sistematização de conhecimento não seria um atributo essencial para se viver e se mover na sociedade...
Duvidamos disso – a não ser que aceitemos que o mundo de hoje esteja bom, o que definitivamente não é o caso. Pensamos que cabe-nos fazer a crítica da sociedade atual – consumista, fetichista, mercadocêntrica, acrítica. Defender de um ensino sistematizador é defender um método contrahegemônico, capaz de sustentar valores (por que a educação não é neutra) que se contraponham aos atuais – solidariedade, justo valor, pensamento crítico. Longe de ser algo supérfluo, a sistematização é atributo indispensável para formar sujeitos dotados de capacidade de reflexão e ação autônomas, características fundamentais para a construção desse outro mundo possível.

3- Como deve ser o professor "pós-moderno"?
Gadotti defende que, na sociedade pós-moderna ou da informação (que ele prefere chamar de "sociedade aprendente"), o professor passa de lecionador a mediador de sentidos. "O novo professor é um profissional do sentido. Diante dos novos espaços de formação (diversas mídias, ONGs, Internet, espaços públicos e privados, associações, empresas, sindicatos, partidos, parlamento...), o novo professor integra esses espaços e deixa de ser lecionador para ser um “gestor” do conhecimento social (popular), o profissional que seleciona a informação e dá/constrói sentido para o conhecimento, um mediador do conhecimento. “Gestor” aqui significa construtor, organizador, mediador, coordenador. Não se confunde com “gerente” de uma empresa."

Uma necessária parte 3, ainda por ser escrita, precisa enfatizar necessariamente a linguagem e a lógica escolar, em contraposição com a midiática. Assunto, quem sabe, para a semana que vem.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Coisas que eu gostaria de ter dito

"Votarei no Lula. Embora não confie mais nele e no PT, confio menos, mas muito menos mesmo, no PSDB, sobretudo nessa versão de agora, em que nos aparecem acolchoados de ética e honestidade."
Agnaldo Farias, crítico de arte e professor da FAU-USP, na Folha de hoje

PQP

terça-feira, outubro 24, 2006

Semiótica petista


Alckmin usou gravata vermelha no debate de ontem. Será que ele jogou a toalha? Desesperou e está tentando conquistar os votos petistas? Ou simplesmente a azul estava lavando? Seja como for, como nos lembra Adilson Citelli em Comunicação e Educação, citando Mikhail Bakhtin:
"Ler o signo [verbal ou não verbal] é, pois, ler a consciência. Os interesses, conceitos, ideologias, visões de mundo podem ser reconhecidos nos discursos postos em movimento pelos sujeitos. As palavras, as frases, os textos – para nos limitarmos ao plano verbal – registram, sob diferentes circunstâncias, os modos pelos quais as experiências são representadas." (p. 58)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Lembranças de Açailândia


acai12, originally uploaded by Rodrigo Ratier.

Do nosso curso de educação para a Comunicação Comunicar para Mudar o Mundo, em Açailândia (MA), nos dias 3 e 4 de setembro. O que é comunicação para Pedro, J. Filho, Mônica, Elielliton e Mauro Sérgio.
Veja mais fotos do curso em Açailândia no meu álbum do Flickr.

Eu torço pelo SBT

Torço mesmo. Uma pena que a rede tenha caído nos últimos anos pelo abuso do mundo cão e dos enlatados da americana ABC – há uns tempos, se você ligasse só assistia uma coisa ou outra. Mas assisti a trechos da programação nesta quinta e no fim de semana e fiquei feliz de ver a rede do mestre Sílvio Santos (como diria Júlio Bernardes) voltando suas baterias para sua verdadeira vocação: a cultura popular – a verdadeira cultura popular, massiva e de qualidade oscilante, mas popular.
Nessa seara, o SBT é imbatível: a linhagem de apresentadores capitaneada pelo SS (Gugu, Portioli, Hebe e o fora do ar Ratinho) é a melhor no que diz respeito ao contato direto com o público, a informalidade, a identificação dos fenônemos que de fato mexem com as camadas mais populares. Mesmo os programas com pretenso glamour, como o "Bailando por um Sonho", acabam com cara de festa de 15 regada a frituras e karaokê.
Eu acho isso bom, aproxima e acolhe o público, dá mais liberdade e é mais verdadeiro. O padrão Globo de qualidade, imitado agora pela Record, é um formato que engessa e encobre. Espaço para a improvisação só mesmo para os reis do caco, Didi (até ele tá bem domesticado...) e Faustão.
Mas um problema crônico o SBT ainda carrega: a grade horária imprevisível. Coisas do SS.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Homerismos



Springfield legaliza o casamento gay. Homer vira ministro episcopal para celebrar uniões do mesmo sexo. Em uma entrevista no Smartline de Kent Brockman...
– Vamos começar o debate. Reverendo Simpson...
– Por favor, Kent. Me chame de "Sua Santidade".

Internet: possibilidades e limitações

Artigo Como Governar Quando Toda a Imprensa é Contra do blog Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, enviado pelo amigão Marcel Gomes:
A constatação
1) Todos os jornais são contra Lula;
2) Todas as revistas são contra Lula, com exceção da Carta Capital;
3) Todas as rádios são contra Lula;
4) E uma rede de televisão – a Globo – (...) reagrupou suas forças e aliados (...) para derrotar o presidente Lula.


A sugestão Migrar para outra mídia, dando um salto tecnológico
É a mais plausível. Usar a internet.
O Governo Lula é quem mais precisa de inclusão digital. Os sites de informação do Governo ou de instituições ligadas ao Governo na internet são de uma inépcia petista.
De uma maneira geral, os governos, os partidos (com exceção do PC do B) e os políticos brasileiros (com exceção de César Maia e Zé Dirceu) não sabem usar a internet.


O que nos interessa no assunto A Internet já é uma ferramenta de produção e circulação de significados contra-hegemônicos?

Opinião do não menos amigão Léo Sakamoto
Isso é aplicável no futuro, hoje a internet é ainda veículo de elite - 10% da população tem acesso à rede.
É interessante considerar um fato: o rádio e a TV nasceram como veículo de massa de recepção coletiva. Mais de uma pessoa pode assistir ou ouvir aos programas ao mesmo tempo. Isso cria em torno do hardware um espaço de discussão pública, uma pequena ágora - para lembrar o espaço político da pólis grega. Em comunidades do interior americanos nos anos 30 e depois nos anos 50 foram instalados rádios e TVs coletivos, em torno dos quais se ajuntava a população local. No Brasil isso ainda é comum, principalmente no interior do Nordeste e da região Norte - já visitei cidades com isso é é muito interessante o efeito.
Já a internet é de massa, mas com recepção individual. A discussão conseqüente se dá a posteriori - ou seja, você se torna um difusor indireto da informação recebida - ou imediatamente, mas no cyberespaço. De certa forma, hoje, a sua "ágora eletrônica" te torna mais próximo do morador de classe média de Belém e Amsterdã, do que do miserável de São Paulo (com exceção ao acesso aos telecentros, que é incipiente).
Considerando que o rádio e a TV englobam inclusive os excluídos (analfabetos, por exemplo) enquanto a internet é um meio excludente por natureza, por só pegar os letrados, e considerando que temos mais de 17 milhões de analfabetos (isso sem contar os funcionais), acredito que essa revolução democratizante só ocorra com a próxima geração, ou seja, nossos filhos. Pois não creio na erradicação da analfabetismo em curto prazo.


Meu comentário
Concordo com as ressalvas do Léo – a internet ainda é excludente e pouco difundida (embora imaginar que líderes comunitários aprendam a usá-la não me parece uma perspectiva distante). Apesar disso, sou muito otimista quanto às suas possibilidades. Essa mídia tem uma série de características únicas

1- Com conhecimentos técnicos rudimentares, qualquer receptor vira produtor de informações e de opiniões. Vide este escriba que vos tecla
2- Seu alcance global e sua estrutura sem centro definido permitem a formação de redes e a amplificação das demandas, dos pontos de vista e das lutas sociais
3- Custo baixíssimo comparado a outras mídias:

A internet tem o que, dez anos? E tanto já aconteceu: explosão do pontocom, a febre de buscas do google, you tube, web 2.0... Imagina o que pode acontecer daqui para a frente, quando a cultura digital estiver mais assimilada. Acho que o futuro de nossas lutas pela transformação passa pelo mouse, modem e computador.
Bom fim de semana!

quinta-feira, outubro 19, 2006

O que faz da escola, escola

Cumprindo (às vezes mal) suas funções clássicas de formar, informar e entreter, a mídia pode "roubar" o lugar que é (ou foi) da escola?
Não. Para o professor da ECA Adilson Citelli, autor de Comunicação e Educação, a escola é escola porque é nela que a informação, a formação e o entretenimento são (ou deveriam ser) questionados e objeto de reflexão, para posteriormente serem aceitos, rejeitados ou modificados num processo que leva tempo:
"A escola continuará sendo escola, portanto locus de sistematização e, sobretudo, produção de saber. A 'leitura' dos sistemas de comunicação, no seu compósito de produção, circulação e, sobretudo, recepção, deve estar integrada aos fluxos crítico-dialógicos dos demais discursos com os quais a escola trabalha" (p. 16-17)
O mesmo assunto, com o mesmo autor, em outro livro, Aprender e Ensinar com Textos Não Escolares:
"A sedução exercida pelos consoles de videogame, pela sintaxe descontínua da MTV, pelos fragmentos publicitários não podem colidir com o necessário trabalho sistematizador que envolve procedimentos de proposição, desenvolvimento/maturidade, síntese/conclusão. Ou seja, de processos laboriais e de investigação que requisitam um tempo de plantio, florescimento e colheita. E aqui ainda existem ações a serem desenvolvidas pela escola que, felizmente, ainda não desapareceram." (p. 26-27)
Bom dia!

terça-feira, outubro 17, 2006

Conversa de bar

Ah, as conversas de bar, sempre tão importantes para a gente formar opinião... Provas incontestáveis de que a recepção é um processo e não um momento. Importantíssimas – e olha que eu não sou nada boêmio. Uma certeza e uma dúvida da última conversa de bar que tive, no sábado, com os queridos amigos Zé Kley e Léo, no bar Paróquia (Vila Mariana. Preços não muito católicos, chopp ok, sandubas idem):
Certeza: Dá vontade de ver o Lula ganhar só para pegar esses jornalistas da grande imprensa e gritar na cara deles: chuuuuupa! Uma colunista do Estadão (não lembramos o nome) chegou ao ponto de dizer que "o povo está contra a opinião pública" – implícito no raciocínio da moça que suas opiniões representam a "pública"...
Dúvida: O governo deveria parar de anunciar em meios de comunicação que ultrapassam o nível da defesa de idéias contrárias e partem para a mentira aberta e descarada? Eu acho que não. Não há maneira de justificar um veto como esse a não ser pelo viés ideológico. Injúria, calúnia e difamação tem de ser enfrentadas na Justiça, mesmo com todos os defeitos do nosso sistema judicial.
Quanto à ideologia dos meios de comunicação em tempos de eleição (todos têm uma, claro), um apanhado legal é este artigo do blog do Emir.
Beijos, boa semana!

sexta-feira, outubro 13, 2006

O medo da avaliação

Avaliar é preciso. Ser avaliado também. Na conversa que tive com o pesquisador José Martinez-de-Toda, ele lembra que não há nenhuma universidade latino-americana entre as 200 melhores do mundo. Ele suspeita que parte da culpa pelo fracasso possa ser creditada à nossa (latino-americana) repulsa pela avaliação. Heloísa Dupas Penteado, em Comunicação escolar – Uma metodologia de ensino, defende que o passado ditatorial fez com que avaliação virasse sinônimo de censura.
Não é, ela explica. É sinônimo de controle, de guia para saber para onde estamos indo. Não me esqueço de que, na banca de entrada do mestrado na FE-USP, uma coisa que um dos avaliadores elogiou na minha proposta foi a busca por uma avaliação da iniciativa pedagógica que eu propunha. "Em educação, sem avaliação qualquer um prova qualquer coisa. Por isso é importante avaliar."
Descobrir e implementar avaliações amplas e democráticas, que estabeleçam um diálogo (e não uma imposição) com os educandos são outros quinhentos. Mas que avaliar é preciso, ah, isso é.

Fla X Flu partidário

Citando Chico Buarque, Nelson Motta resume o Fla X Flu partidário brasileiro em texto na Folha de hoje:
"No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro."

quarta-feira, outubro 11, 2006

Por que ainda voto Lula?

Porque acredito que o PT ainda é a única alternativa partidária à esquerda viável no pais. Bravatas à parte (“estou mais à esquerda do que Lula”, como disse o Alckmin), se os movimentos sociais legítimos e representativos têm algum poder de pressão, ele sem dúvida é maior com o PT do que com o PSDB. Ainda que os compromissos históricos com as bases tenham sido detonados, como lembrou Wanderley Guilherme dos Santos em artigo na Folha:
“É inadimissível que um partido com a representatividade social do PT, sigla depositária das expectativas dos operários urbanos, trabalhadores rurais, pequenos agricultores e grande parcela dos profissionais liberais, tenha sua vida do dia-a-dia administrada por personagens cujos nome de batismo e poder só venham a ser conhecidos quando dão entrada na polícia. Nada têm em comum com o eleitor petista, entusiasta da disputa eleitoral democrática e que por mais de 20 anos acompanha a trajetória do PT, honestamente acreditando nos compromissos institucionais e de justiça social por ele assumidos.”
Na linha programática, quem faz as necessárias ressalvas é João Pedro Stédile, do MST, em seu texto “É preciso barrar a direita e derrotar Alckmin”, também na Folha:
“Nos últimos quatro anos, houve um governo de coalizão, como costuma dizer o ministro Tarso Genro, e as forças do capital continuaram influenciando para manter a política neoliberal. Por outro lado, forças de esquerda conseguiram avanços na política externa, na defesa das estatais e em algumas áreas sociais, como a educação pública e o salário mínimo.”
A ligação com os movimentos sociais é a minha principal justificativa pró-Lula. Um apoio sem um centésimo da empolgação de 2002, e com uma séria desconfiança de que a política do século 21 vai se dar cada vez mais distante do ambiente partidário. Mas na hora da decisão é preciso posicionar-se, né?

terça-feira, outubro 10, 2006

Partilha do conhecimento

Artigo de Koïchiro Matsura, na Folha de domingo (08.10):
"A partilha de conhecimento (...) não é o problema, e sim a solução. A partilha de conhecimento não divide o conhecimento, mas o leva a crescer e multiplicar-se."
Quem sabe e divide o que sabe não precisa temer que aquele a quem ensina "roube" o seu lugar. Conhecimento é construção coletiva, dividi-lo é condição necessária para saber mais.
Boa noite!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Cinco idéias sobre o debate de ontem

1- Debates de TV não esclarecem opiniões, projetos, dúvidas etc. Pelo menos não nos moldes atuais. Concordo com o Pierre Bourdieu, que no seu livro Sobre a Televisão diz (mais ou menos assim) que é impossível haver embate consistente de idéias e formação consistente de opiniões em tempos tão resumidos – 45 segundos para pergunta, dois minutos para a resposta, um minuto para a réplica, um para a tréplica e acabou. Fica tudo muito no ar.

2- Sugestão para aprofundar as questões: permitir participação mais ativa aos mediadores, com direito a réplica, apresentação de dados confiáveis (amenizando o fato de cada candidato apresentar uma estatística diferente) e possibilidades de apertatr mais o entrevistado.

3- Lula tá arrogante, sim. Vocês viram quantas vezes ele mandou o Alckmin agradecer a ele por ter feito alguma obra? Olha, eu voto nele (neoliberalismo não dá meeeesmo), mas realmente seria bom que ele descesse do seu mundo paralelo para debater e governar.

4- O nacionalismo é uma idéia idiota. Do ponto de vista dos direitos humanos e da soliedariedade entre os povos, é ridículo o ataque do Alckmin à posição conciliadora do Lula quanto ao conflito com a Bolívia. Um ser humano passando fome aqui é igual a um ser humano passando fome lá. A defesa de ideais nacionais só faz sentido quando é contrária à desigualdade, o que não é o caso.

5- Os ataques "técnicos" ao Lula geralmente descambam em preconceito. Começam com ataques à falta de ética (justo), gastos errados (questionável) e costumam terminar com "ah, vai, o cara é torneiro, mecânico, ignorante, não tem preparo" (lamentável). Tasso Jereissati, na Folha de hoje, sobre um suposto erro de leitura do petista : "Ele [Lula] não sabe nem ler direito".

quinta-feira, outubro 05, 2006

Analisando: Na guerra, a primeira vítima é...

Do ponto de vista jornalístico, não há nenhum argumento (relevância, atualidade, interesse público) que justifique o fato de Folha e Estadão deixarem de fora de suas edições de hoje a notícia de que a PF não encontrou indícios da participação de Freud Godoy no escândalo do dossiê. O cara, como se sabe, era o elo que ligava Lula (de quem era assessor) ao perrengue todo. O veto, com certeza, é ideológico. Né não?
Beijos, boa noite!

(08.10) Errei: um comentário me alertou de que a Folha publicou, sim, a notícia. Com bem pouco alarde, é verdade, mas publicou. Errei ao procurar na edição de 5a e não na de 4a. Mal aí, gente, e obrigado a quem deixou o comentário.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Lendo: o que é informação?

Do livro Discurso das Mídias, de Patrick Charaudeau, uma análise semiótica (estudo de formas e conteúdos dos discursos) relativista sobre os discursos das mídias, sem determinismos ou regras fechadas. A hipótese de "o que é informação" proposta pelo autor tem por base o instrumental da filosofia da linguagem e da psicologia social:
"A informação não corresponde apenas à intenção do produtor, nem apenas à do receptor, mas como resultado de uma co-intencionalidade que compreende os efeitos visados [pelo produtor], os efeitos possíveis [da mensagem] e os efeitos produzidos [no receptor]. Esses três lugares se definem como num jogo de espelhos em que as imagens incidem umas sobre as outras." (p. 28)

terça-feira, outubro 03, 2006

Fazendo: Minicurso na FE-USP

O companheiro Aldo Pontes, professor da FAM e da USF me convidou para ministrar o minicurso Educação com e para as Mídias: desafios e possibilidades junto com ele. O lance rolou na 4ª Semana de Educação na Faculdade de Educação da USP, na manhã do dia 28 de setembro. Abaixo, a foto dos participantes do curso, cortesia do colega Alexandre Faria, de Itapeva (SP).

Pensando: Encontro com José Martínez-de-Toda

No último domingo, tive o prazer de me encontra com o pesquisador espanhol José Martínez-de-Toda, um jesuíta que estuda comunicação e educação (C&E). Em um pós-doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Martínez desenvolveu uma metodologia de avaliação para programas de educação para a comunicação – foi isso o que atraiu meu interesse para o seu trabalho.
Como ele viria ao Brasil para uma reunião dos jesuítas, combinamos de nos encontrar no dia 1º de outubro, quando eu o levaria de Congonhas para Cumbica e ele me daria o seu livro (Não publicado no Brasil, não disponível na net e publicado apenas em italiano, língua da qual não manjo nada. Mas isso é um outro problema...). No trajeto e no aeroporto, discutimos C&E por umas três horas. Aprendi coisas interessantes. Pretendo publicar neste espaço nos próximos dias algumas idéias da nossa conversa, que começou com ele falando em espanhol e eu em português (sim, também não manjo nada de espanhol) e terminou com ambos falando inglês. Coisas da comunicação...
Beijos, bom dia!

Começou: seja bem vindo!

Tô numa fase totalmente internética. Web 2.0, msn, netvibes e agora esse blog, "Comunicar para Mudar o Mundo". Seja bem vindo! Neste espaço, quero discutir comunicação e educação (C&E) de uma perspectiva transformadora – daí o "Mudar o Mundo" do título, que também é o nome do programa de educação para a comunicação que coordeno na ONG Repórter Brasil. Espero que você goste desse espaço, visite-o e colabore com ele quando puder. Para começar, quero deixar uma frase do Paulo Freire que, para mim, já é quase um lema de vida:
"O mundo não é. O mundo está sendo."
Bom dia, amigos!