segunda-feira, outubro 09, 2006

Cinco idéias sobre o debate de ontem

1- Debates de TV não esclarecem opiniões, projetos, dúvidas etc. Pelo menos não nos moldes atuais. Concordo com o Pierre Bourdieu, que no seu livro Sobre a Televisão diz (mais ou menos assim) que é impossível haver embate consistente de idéias e formação consistente de opiniões em tempos tão resumidos – 45 segundos para pergunta, dois minutos para a resposta, um minuto para a réplica, um para a tréplica e acabou. Fica tudo muito no ar.

2- Sugestão para aprofundar as questões: permitir participação mais ativa aos mediadores, com direito a réplica, apresentação de dados confiáveis (amenizando o fato de cada candidato apresentar uma estatística diferente) e possibilidades de apertatr mais o entrevistado.

3- Lula tá arrogante, sim. Vocês viram quantas vezes ele mandou o Alckmin agradecer a ele por ter feito alguma obra? Olha, eu voto nele (neoliberalismo não dá meeeesmo), mas realmente seria bom que ele descesse do seu mundo paralelo para debater e governar.

4- O nacionalismo é uma idéia idiota. Do ponto de vista dos direitos humanos e da soliedariedade entre os povos, é ridículo o ataque do Alckmin à posição conciliadora do Lula quanto ao conflito com a Bolívia. Um ser humano passando fome aqui é igual a um ser humano passando fome lá. A defesa de ideais nacionais só faz sentido quando é contrária à desigualdade, o que não é o caso.

5- Os ataques "técnicos" ao Lula geralmente descambam em preconceito. Começam com ataques à falta de ética (justo), gastos errados (questionável) e costumam terminar com "ah, vai, o cara é torneiro, mecânico, ignorante, não tem preparo" (lamentável). Tasso Jereissati, na Folha de hoje, sobre um suposto erro de leitura do petista : "Ele [Lula] não sabe nem ler direito".

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Rodrigo,

Quero saber se funciona mesmo esta história de comentários no seu blog! E, sobre o debate entre os candidatos que a Band transmitiu, quero adicionar:

1. De fato, ficou longe de ser um bom debate. Em parte, realmente por causa do formato. Mas também pela falta de preparo dos candidatos. As longas pausas que o Lula fazia depois das perguntas (ou dos ataques) do Alckmin foram a maior prova disso. Mesmo o Alckmin mal sabia como atacar o governo do Lula.

2. O nacionalismo não é uma idéia idiota. Não se trata de eleição para secretário-geral da ONU, mas para presidente do Brasil. E, em primeiro lugar, o presidente de um país tem que governar para seu país, com o orçamento de seu país e para os cidadãos de seu país. Qual governo que não faz isso? É claro que, no caso da Bolívia, o Lula está certo. (O Alckmin queria o quê? Mandar as Forças Armadas para lá?) Mas desconstruir uma proposta nacionalista sem colocar nada no lugar é como torcer para que a globalização tenha efeitos ainda mais nocivos em nossa sociedade. Defender a solidariedade entre os povos não implica abandonar uma agenda para o desenvolvimento nacional.

3. Entendo sua expectativa de haver um debate mais consistente de idéias, em que se apresentem dados mais confiáveis. Mas eu não esperaria tudo do debate. Antes do debate, os candidatos deveriam apresentar planos de governo. O que se chama no Brasil de plano de governo, na verdade, é um conjunto de diagnósticos genéricos e propostas vagas publicados às pressas, pouco antes do primeiro turno. Não se citam números, objetivos concretos, metas. Por isso, o eleitor brasileiro, quando elege um político, dá um tiro no escuro. Ninguém faz a menor idéia do que esperar concretamente do candidato. Se planos de governo sérios tivessem sido elaborados, o debate de ontem poderia partir de um outro patamar.

4. Você achou que a produção foi injusta com o Lula ao negar o direito de resposta pedido pelo presidente? E, por fim, você também teve a impressão de que a produção do programa foi muito mais tolerante com o Alckmin do que com o Lula, ao deixar o tucano usufruir de uns bons segundos adicionais ao final de cada uma de suas falas?

Um abraço e parabéns pelo blogue!

Rodrigo Ratier disse...

Valeu pelos comentários, companheiro. Sim, acho que o despreparo dos candidatos (e a inexistência de planos de governo, como você bem lembrou) piorou a qualidade do debate. Quanto ao nacionalismo, ah, eu estou com essa tendência de achar corporativista, sim. Que sentido faz a defesa de uma bandeira, do nacionalismo pelo nacionalismo? quanto na idéia de nação não é abstrato -- e pior, arbitrário? è só pensar na América espanhola, por exemplo. A linha de corte para defender um projeto, acredito, tem de ser o ataque à desigualdade, e não o fato de ele ser nacional ou não. Abração,Th!

Anônimo disse...

De fato, um dos melhores momentos de Lula foi quando ele respondeu sobre a política internacional de seu governo que, reservadas as críticas, foi uma das mais bem sucedidas que o Brasil teve nas últimas décadas. Alckmin quis suscitar aquele sentimento de "nacionalismo" que tanto foi instigado pela grande mídia que já teria jogado uma bomba naquele país "insignificante". Não colou. Lula arrematou dizendo que o Alckmin pensa igual ao Bush. De ignorante esse torneiro mecânico tem bem pouco.