segunda-feira, fevereiro 12, 2007

À Procura da Felicidade

Não a nossa, mas a do filme estrelado por Will Smith. Assisti nesse fim de semana e não consegui deixar de pensar como o personagem vivido pelo Smith (história baseada em fatos reais, o que torna, pelo menos em tese, as coisas ainda mais dramáticas) nâo consegue se comunicar. Comunicar, aqui, no sentido freireano de "pôr-se no lugar do outro".

Resuminho para quem não tem idéia do que estou falando: Chris Gardner (Smith) leva uma vida cheia de privações, ganha pouco como vendedor, investiu no produto errado. Mas é inteligente e aposta em um período de seis meses como estagiário não remunerado de uma corretora na bolsa. Aprovado,(um entre 20 o são), há promessa de tranqulidade financeira. Até que isso aconteça, o cara passa por (como é que se diz mesmo?) poucas e boas...

Despejado, preso, abandonado pela mulher e com um filho de seis anos para sustentar, chega a dormir em banheiros do metrô, faz fila para lutar com os sem-teto por uma vaga no albergue de Glide. Pois bem: nem assim, com os dois pés enfiados na merda, o cara consegue se abrir, se fazer entender, conseguir empatia de quem quer que seja. Tá, eu sei que a história é sobre alguém que consegui superar todas as adversidades – Senhor, não remova a montanha, me dê forças para subi-la, diz o canto gospel no culto do albergue. Mas, como disse, não consegui deixar de pensar que o cara não consegui comungar com ninguém da sua dor. Como resultado, sofreu muito mais do que deveria, e amargou talvez a pior sensação humana: a solidão.

"Companheiro, tô precisando da sua força. Você me ajuda?" Nunca esqueci essa frase da Erundina, pedindo voto em uma campanha para prefeito em 1998 (talvez por isso eu continue votando nela mesmo depois dela se atucanar). Que digam que isso é hipocrisia da parte dela (ou da minha), mas para mim isso é comunicar: é se revelar por inteiro, é pedir que o outro sofra com você, sorria com você, ponha-se no seu lugar.

No filme, Gardner prefere enfrentar tudo sozinho. Acho desnecessário. Que digam que isso é ingenuidade, mas acho que o mundo nos socorre, por pior que estejamos (a quem discorda, sugiro que conheça o trabalho do padre Júlio Lancelotti e da Toca de Assis com o povo da rua). Usemos a comunicação-comunhão para a procura da felicidade. A cada queda, invoquemos com humildade e confiança o mantra infalível:

"Me ajuda."

E alguém virá em seu socorro.

3 comentários:

Unknown disse...

Aí, Ratier... Jokura passando para desejar longa vida ao blog!

Pretendo frequentar e quem sabe tomar coragem para encarar um mestradão, tb...

Sucesso!

Anônimo disse...

Rodrigão, gostei muito de sua análise, acho que para a ética americana vencer na vida - ou ter sucesso financeiro - é uma tarefa individual mesmo. Ainda sobre dificuldade de se comunicar, sugiro um belo filme que está em cartaz chamado Little Children (o nome em português, Pecados Íntimos, não faz jus a ele...)
abração

Anônimo disse...

Rodrigo,

Gostei de seus pensamentos, comunicação é importante em qualquer lugar do mundo.

Pedir ajuda quando nos julgamos necessitados é válido, mas a cultura americana nao é como a nossa. E em consequencia disso, o personagem nao sentia interesse nem necessidade de pedir ajuda, mesmo na situação em que se encontrava.

Os americanos sao educados, impulsionados até, a promoverem o seu próprio crescimento, é uma questao de honra, de orgulho.

A cultura pede que você seja o melhor, que tente fazer o melhor, que seja competitivo, agressivo, que nao se amedronte.

Na minha opinião, o filme nao retrata uma falta de comunicação do personagem, muito pelo contrário, através da boa comunicação e competência social que possuia foi possível sair do "buraco" em que se encontrava.
Boa comunicação também significa saber buscar seus ideais através da boa e sadia manipulação das relações interpessoais.

Obs.: adorei seu blog.

Um abraço,

Patrícia Lima.